domingo, 23 de novembro de 2008

Meu avô: Harold V. Walter. Indiana Jones e consul da Inglaterra.

(o primeiro à direita)

Harold Walter: Um inglês
do século XIX na Lagoa Santa do XX
por Eduardo Melander Filho e Rodrigo Medina Zagni

A biografia de Harold Walter se confunde, sob vários aspectos, com a própria história da Arqueologia Brasileira especialmente no histórico de um de seus mais importantes e significativos sítios: Lagoa Santa, no Estado de Minas Gerais, local onde mais resultados obteve o arqueólogo membro da Academia de Ciências e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Vice-Cônsul da Inglaterra em Belo Horizonte.
Harold Victor Walter nasceu em 23 de julho de 1897 em Liverpool, na Inglaterra.
O “Cidadão Mineiro Honorável”, título que lhe fora conferido pelo Estado de Minas Gerais, casou-se com Doris Annie Pryor no dia 21 de abril de 1926 e tiveram dois filhos, Cyril Guy Pryor Walter e Derek Walter.
Entrou para o consulado inglês como Vice-Cônsul em 1942, com a Segunda Guerra Mundial em pleno curso.
De 1956 até 1975 foi diretor da “Cultura Inglesa” de Belo Horizonte, atividade que integrou às suas pesquisas, fazendo do espaço o local para a comunicação dos resultados de suas escavações.
Foi condecorado pelo presidente Emílio G. Médici com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Oficial, em 28 de abril de 1971, a mais alta condecoração do governo brasileiro já dada a estrangeiros.
A própria biografia de Walter demonstra que a Arqueologia passava a ser uma “aventura para intelectuais”, uma espécie de continuidade das muitas de suas peripécias juvenis, como quando fugiu da Inglaterra para se alistar ao exército Belga para lutar a Primeira Guerra Mundial, uma vez que em seu país natal não tinha idade suficiente para servir ao exército real. Da aventura, seu neto Alexander Walter nos diz ter guardado o capacete que o avô usou em combate, com a marca de um tiro que o alvejou de raspão e por pouco não lhe tirou a vida. Guarda ainda uma baioneta alemã, lembrando que o avô contava tê-la tomado de um inimigo após vencê-lo em um combate corpo a corpo, travado até à morte.
Na guerra, já como sargento, Walter foi condecorado. Para ser operado de uma hérnia teve que se ausentar do combate, e ao receber alta, podendo voltar ao front, recebeu a notícia de que sua companhia inteira havia sido aniquilada.
Seu neto, Alexander Walter, se recorda do avô como um arqueólogo nato:
“Fui com ele quando era criança em vários lugares como Cerca Grande e outras grutas da região. Vi muitos desenhos arqueológicos nas paredes das cavernas. Ele era uma pessoa super bem-humorada e era famoso por contar piadas que tinham guardadas num caderninho.”
O objetivo que norteou a maior parte dos estudos e escavações de Walter em Lagoa Santa foi comprovar a contemporaneidade do homem primitivo, que ali habitou, com a fauna extinta do período pleistoceno. Por outro lado, seu interesse inicial pelo sítio foi de origem paleontológica, no qual os abrigos forneceram-lhe uma diversidade enorme de materiais.
Harold Victor Walter morreu em agosto de 1976 de insuficiência cardíaca, em Belo Horizonte, aos 78 anos de idade.
Como legado, deixou nada mais, nada menos que a maior coleção do mundo: 38 crânios intactos e semi-intactos coletados por uma mesma equipe, na região de Lagoa Santa.
Durante muito tempo a coleção de Walter permaneceu com a família, que conta com um arqueólogo de formação, Fernando Costa, sobrinho-neto de Harold Walter. Após o fim da Academia Mineira de Ciências o acervo foi doado para o Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais que, em 1995, o enviou aos cuidados da Universidade de São Paulo para ter um tratamento adequado.
A coleção é vastíssima e só o arqueólogo Walter Neves, do Laboratório de Estudos Evolutivos da Universidade de São Paulo, segundo publicado pelo Jornal “O Estado de Minas”, catalogou e reconstituiu 2.650 peças.
Não reconhecer a colaboração dada por arqueólogos como Walter é desconhecer a própria história da arqueologia no Brasil, e se quisermos retomar questões ainda irresolutas, como a da antiguidade da ocupação humana na América, não podemos fazê-lo sem antes voltar à Lagoa Santa, por meio da gigantesca e riquíssima coleção de Harold Walter e às chaves que ela ainda esconde.
Ele no Consulado da Inglaterra em Belo Horizonte, Minas Gerais.

2 comentários:

edmelander disse...

Olá
Sou um dos autores do artigo acadêmico publicado pela Unicamp sobre Harold Walter,cujo texto acima é um pequeno trecho. Não nos conhecemos pessoalmente porque as entrevistas foram feitas pelo Rodrigo, o outro autor. De qualquer forma, agradeço a publicação em seu blog.
Os textos completos podem ser encontrados em:
PRIMEIRA PARTE:
http://edmelander.blogspot.com/2008/11/harold-walter-um-ingls-do-sculo-xix-na_14.html
OU
http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=120
SEGUNDA PARTE
http://edmelander.blogspot.com/2008/11/harold-walter-um-ingls-do-sculo-xix-na.html
OU
http://www.historiahistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=119

cave_man disse...

Boa Tarde, Alexandre
Também me chamo Alexandre e estou finalizando um livro sobre a história da espeleologia mundial.
Na seção sobre os precursores da espeleologia no Brasil, encontrei dados sobre o seu avô e não poderia de deixar em branco a sua participação.
Gostaria de lhe perguntar, se sabe me dizer quais são os nomes dos outros que estão presentes na foto (a de cima, com 4 sr.s na frente de uma caverna)bem como o nome da caverna.
Também gostaria de pedir a autorização para o uso da(s) foto(s) na referida publicação. Aguardo contato. Obrigado.
Alexandre - SBC - SP
alejotaefe@hotmail.com